Nesta seção, compartilho observações e aprendizados extraídos da prática diária — momentos em que a acupuntura médica ilumina padrões sutis, conecta sintomas a histórias de vida e oferece caminhos de cuidado mais coerentes e profundos.
Cada nota aqui registrada nasce do encontro vivo entre teoria e presença, entre a sabedoria milenar da acupuntura médica e as nuances únicas de cada paciente. Esta página é um espaço para compartilhar aprendizados que brotam do cotidiano clínico — pontos de escuta, de reflexão e de transformação.
Por que acupuntura? Porque há padrões em nossa saúde que se repetem — silenciosos, cíclicos, muitas vezes despercebidos — até o dia em que se tornam sintomas. A acupuntura é, antes de tudo, uma forma de perceber essas repetições sutis. Ela revela conexões entre corpo e mente que escapam à lógica imediata, mas que fazem completo sentido quando vistas em perspectiva. Em vez de apagar incêndios, ela investiga onde começou o calor. Em vez de calar o sintoma, ela pergunta o que ele tem a dizer.
A partir dessa visão, entramos na ação prática. A acupuntura regula e organiza: ativa o sistema nervoso, modula neurotransmissores, melhora a irrigação tecidual, reduz inflamações, otimiza o sono, reequilibra o eixo hormonal. É um método estruturado, mensurável, com resultados consistentes tanto na dor física quanto nos transtornos emocionais. Não se trata de intuição sem direção — trata-se de uma lógica de cuidado que respeita a complexidade, mas não se perde nela.
E, no fim, o que move essa escolha é algo ainda mais íntimo: a busca por uma vida com mais coerência interna. A acupuntura favorece o retorno àquilo que é essencial para você. Ajuda a distinguir o que é ruído e o que é verdade. E permite que o cuidado com o corpo se alinhe com valores mais profundos — como autonomia, integridade, quietude. Por isso, quando me perguntam por que acupuntura, respondo sem hesitação: porque ela reconecta você ao que tem valor — no corpo, na mente e, sobretudo, no modo como você escolhe viver.
Atender de forma particular é uma escolha que nasce do desejo de oferecer um cuidado mais livre, presente e centrado em quem você é. Quando não há intermediários entre médico e paciente, abre-se espaço para um encontro mais genuíno — onde escutar é tão importante quanto tratar, e onde o tempo se torna aliado, não obstáculo.
Sem os limites impostos por protocolos ou autorizações externas, posso construir com você um percurso terapêutico mais flexível e coerente com suas necessidades. A consulta deixa de ser apenas um procedimento técnico e passa a ser num momento de acolhimento, investigação cuidadosa e diálogo verdadeiro. Cada sessão é conduzida com profundidade, respeitando seu ritmo, suas dúvidas e vivências.
Já tive a oportunidade de atuar por meio de convênios e conheço de perto os desafios desse modelo. Embora os planos de saúde tenham sua relevância, a experiência foi, em muitos momentos, limitada — marcada por entraves administrativos, dificuldades no faturamento e restrições a procedimentos que considero essenciais. Essa vivência reforçou minha convicção de que um atendimento mais direto e sem amarras favorece decisões clínicas mais coerentes e eficazes.
Acredito que o cuidado em saúde vai muito além da técnica — envolve presença, empatia e escuta sensível. Procuro cultivar um olhar atento e acolhedor, guiado pelo desejo sincero de compreender quem está à minha frente. Ao longo dos anos, essa maneira de cuidar tornou-se a base do meu trabalho: uma prática profundamente humanizada, onde cada pessoa é recebida com respeito, delicadeza e compreensão.
Investir numa consulta de acupuntura não é apenas buscar alívio imediato. É cuidar da continuidade da sua capacidade de trabalhar, da sua qualidade de vida e da sua clareza emocional. É nutrir estabilidade interior para lidar com os desafios diários, recuperar a leveza de planejar o futuro e manter corpo e mente em harmonia.
Se você procura um acompanhamento mais próximo, onde o bem-estar seja prioridade, estou aqui. À disposição para acolher sua história e caminhar ao seu lado com atenção, presença e confiança.
“Estou sem dinheiro pra isso.” A frase sai fácil, quase automática. Mas será mesmo sobre dinheiro? Ou será uma forma de adiar o que incomoda, de dar prioridade a tudo — menos ao próprio corpo?
A acupuntura não promete milagres. Mas entrega algo raro: equilíbrio. Quando bem feita, com escuta atenta e olhos treinados, ela reorganiza o que o tempo e o estresse bagunçaram. Dormir melhor, sentir menos dor, digerir com mais leveza, ter mais clareza — isso não tem preço fixo, mas tem valor. E é cumulativo.
No começo, pode parecer um luxo. Mas aos poucos, quem investe percebe: diminui a necessidade de remédios, as idas ao pronto-socorro, o peso dos diagnósticos. A saúde deixa de ser um campo de batalha e passa a ser terreno fértil.
Cuidar-se antes de adoecer é uma escolha rara — e sábia. Há quem só perceba isso quando o corpo grita, quando a dor paralisa, quando os exames se tornam rotina. E há quem entenda antes, silenciosamente, como quem planta. E colhe.
Talvez a pergunta certa não seja “quanto custa?”, mas “o que estou adiando quando digo que não posso?”. Porque às vezes, o que falta não é dinheiro. É visão.
A acupuntura promove analgesia por meio de mecanismos neurobiológicos complexos, validados por pesquisas recentes. A inserção de agulhas em pontos específicos estimula fibras nervosas aferentes, como as do tipo Aδ, que transmitem sinais à medula espinhal. Esse estímulo ativa interneurônios inibitórios na substância gelatinosa, liberando neurotransmissores como metencefalina, que bloqueiam a transmissão de sinais nociceptivos conduzidos por fibras do tipo C .
Além disso, a estimulação acupuntural induz a liberação de neurotransmissores e neuromoduladores, incluindo endorfinas, serotonina e adenosina. A adenosina, por exemplo, desempenha um papel crucial na modulação da dor, e sua concentração aumenta significativamente nas áreas tratadas durante a acupuntura . Esses mediadores químicos atuam em receptores específicos, promovendo efeitos analgésicos e anti-inflamatórios.
A acupuntura também influencia áreas cerebrais envolvidas na percepção e regulação da dor, como o córtex somatossensorial, a ínsula e o córtex pré-frontal. Estudos de neuroimagem funcional demonstram que a acupuntura modula a atividade dessas regiões, contribuindo para a redução da percepção dolorosa .
Em casos de dor crônica, como lombalgia, enxaqueca e fibromialgia, a acupuntura tem mostrado eficácia na redução da intensidade da dor e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Esses efeitos são atribuídos à capacidade da acupuntura de modular sistemas neurofisiológicos e restaurar o equilíbrio funcional do organismo.
Um ensaio clínico randomizado publicado em 2 de maio de 2025 na revista Nutrition & Diabetes investigou os efeitos de uma dieta anti-inflamatória isolada e em combinação com acupuntura em pacientes com diabetes tipo 2 (DM2) e depressão leve a moderada. O estudo incluiu 90 participantes, divididos em três grupos: dieta anti-inflamatória com acupuntura, dieta anti-inflamatória isolada e tratamento padrão.
Após oito semanas, os resultados demonstraram que a combinação de dieta anti-inflamatória e acupuntura proporcionou melhorias significativas em comparação com os outros grupos. Observou-se uma redução de aproximadamente 20% nos escores de depressão e ansiedade, além de diminuições de 4,28% na circunferência abdominal e 0,82% nos níveis de HbA1c. Também houve um aumento significativo nas concentrações de HDL-C.
Esses achados sugerem que a acupuntura, quando associada a uma dieta anti-inflamatória, pode ser uma abordagem eficaz para melhorar a saúde mental e metabólica em pacientes com DM2 e depressão. A ausência de efeitos adversos graves reforça a segurança dessa terapia combinada.
Referência: Irandoost P, Firouzjaei A, Heshmati J, Sadeghi E, Ayati MH, Namazi N. The effects of an anti-inflammatory diet alone or in combination with acupuncture on mental health, anthropometric indices, and metabolic status in diabetic patients with depression: a randomized, controlled clinical trial. Nutrition & Diabetes. 2025;15:18.
Como médico acupunturiatra, tenho observado os profundos benefícios da acupuntura para a clareza emocional. Essa prática milenar da medicina tradicional chinesa não se limita a tratar condições físicas, mas também promove equilíbrio emocional e mental.
A clareza emocional é a capacidade de identificar, compreender e expressar emoções de forma saudável. Estudos recentes mostram que ela pode modular a relação entre inflamação e depressão. Indivíduos com baixa clareza emocional e altos níveis de marcadores inflamatórios, como interleucina-6 e proteína C-reativa, apresentam sintomas mais graves de depressão. Isso evidencia a importância do equilíbrio emocional na prevenção e tratamento da depressão.
A acupuntura atua no sistema nervoso, estimulando pontos específicos para liberar neurotransmissores e hormônios que promovem o bem-estar. Esses estímulos ajudam a reduzir a inflamação, regular o sistema imunológico e impactar positivamente a saúde mental. Além disso, ela promove a liberação de endorfinas, aliviando o estresse e a ansiedade.
Ao melhorar a circulação de energia (Qi) e sangue, a acupuntura equilibra as emoções, proporcionando calma e clareza mental. Muitos pacientes relatam maior capacidade de lidar com situações estressantes e melhor qualidade do sono após as sessões.
A prática regular de acupuntura é uma ferramenta valiosa para melhorar a clareza emocional e a saúde mental. Integrá-la em um plano de tratamento holístico pode ajudar a equilibrar corpo e mente, promovendo uma vida saudável e harmoniosa.
Em resumo, a acupuntura não trata apenas sintomas físicos, mas desempenha um papel crucial no equilíbrio emocional, ajudando a modular a relação entre inflamação e depressão e proporcionando uma abordagem integrativa para o cuidado com a saúde.
Referência: Auburn R. Stephenson, Iris Ka-Yi Chat, Allyson T. Bisgay, Christopher L. Coe, Lyn Y. Abramson, Lauren B. Alloy, Higher inflammatory proteins predict future depressive symptom severity among adolescents with lower emotional clarity. Brain, Behavior, and Immunity, Volume 122, 2024.
É cada vez mais evidente que nossa visão de mundo — se o percebemos como um lugar acolhedor ou hostil — se forma muito mais a partir das relações afetivas na infância do que de fatores materiais ou contextos de risco. Uma pesquisa recente, publicada na revista Child Development, mostrou que a sensação de segurança, beleza e bondade no mundo adulto está fortemente ligada ao calor afetivo recebido dos pais, mais do que à exposição à pobreza ou ao perigo. Esse dado me tocou profundamente, porque volta e meia recebo no consultório pacientes que, mesmo bem-sucedidos e funcionais, carregam uma sensação persistente de que o mundo é frio, desconectado, até mesmo ameaçador.
Na prática da acupuntura, muitas vezes observo como essas memórias emocionais — registradas não só na mente, mas no corpo — se manifestam como ansiedade crônica, dores difusas, insônia ou bloqueios afetivos. Pela ótica da medicina chinesa, esses estados revelam desequilíbrios no Coração (Xin), que além de regular o sangue, abriga o Shen — nossa mente, consciência e capacidade de conexão. Quando o calor humano é escasso na infância, o Shen cresce desabrigado, e o mundo parece não ter lugar seguro. A acupuntura, nesse contexto, pode ser mais do que um tratamento: pode ser uma experiência reparadora.
Ao tonificar o Coração, acalmar o Fígado e nutrir o Yin do Rim, criamos internamente uma sensação de estabilidade, pertencimento e coerência. E não é incomum ver pacientes relatando, após algumas sessões, um sentimento novo — ou esquecido — de tranquilidade e leveza. Como se estivessem finalmente sendo recebidos no mundo com um olhar mais gentil.
Mais do que aliviar sintomas, a acupuntura abre espaço para que o corpo e o espírito se reencontrem. E, nesse gesto silencioso de reconexão, podemos vislumbrar algo essencial: que é possível confiar novamente. E que, mesmo que o passado tenha sido frio, o presente ainda pode ser aquecido com presença, cuidado e transformação.
Referência: Lansford, J. E., et al. (2025). Predictors of Young Adults’ Primal World Beliefs in Eight Countries. Child Development, 96(3), 1234–1250. https://doi.org/10.1111/cdev.14233